sábado, 3 de setembro de 2011

A redução de freguesias e municípios em época de vacas magras


Actualmente em Portugal, contamos com cerca de 4200 freguesias distribuidas pelo continente e regiões autónomas, respectivamente distribuídas por 308 concelhos, sendo que o nosso país tem uma superfície de 92 152 km2 e cerca de 10,6M de habitantes.


Mergulhados numa profunda crise económica e com um défice altíssimo, Portugal é obrigado a cortar em tudo o que é sítio, até no número de freguesias e de municípios... Mas será que estamos assim tão mal quando comparados com outros países da Europa dos 27?


São quatro os países com uma menor superfície e simultaneamente menor população do que Portugal na União Europeia mas que contam com muitos mais concelhos, nomeadamente, a Áustria com 2357 , a Bélgica com 589, o Chipre com 378 e a Eslováquia com 2928.


Recorrendo ao uso de interpolações relacionando o número de habitantes e a área da superfície dos países mais ricos da UE torna-se muito mais pertinente a comparação entre Portugal e os mesmos.


No que toca ao número de habitantes, se as maiores potências da UE seguissem o exemplo de Portugal, a Alemanha deveria ter 2374 municípios, no entanto, tem mais de 12000, já a França deveria ter 1063 mas conta com 36600.


No que toca à área da superfície do território da Alemanha e da França, verifica-se que se as grandes potências da UE seguissem o exemplo de Portugal, deveriam ter 1178 e 2088 concelhos respectivamente.


No que toca ao número de freguesias salienta-se dois casos especiais:
1) Até ao ano de 2001 , Portugal contava com a maior freguesia da Europa (Algueirão – Mem Martins ) com mais de 100 000 habitantes para 16,37 km2 de superfície.
2) Em Lisboa, segundo o jornal Público, a redução do número de freguesias de 53 para 24 vai permitir acabar com 38% dos cargos. No entanto, os gastos com a despesa serão os mesmos pois apesar de irem funcionários para o desemprego, os que estavam em part-time vão passar a trabalhar a tempo inteiro.


Continuando com a reflexão acerca do número de freguesias, verifica-se que no Porto existem várias freguesias com menos de 5000 habitantes, nomeadamente Miragaia, Sé, Vitória e S. Nicolau, o que dá que pensar numa possível união devido também à proximidade.


De facto, existe uma desproporção muito grande entre o tamanho das freguesias a nível nacional, que na minha opinião se deve sobretudo à problemática do centralismo que ao longo dos anos tem adiado a questão da regionalização. Existe a necessidade de reformular o mapa de Portugal, mas sim no sentido de uniformizá-lo e dotá-lo do enriquecimento da igualdade de oportunidades para cada região, que por si só poderá ajudar a combater o flagêlo
do desemprego com a possibilidade da criação de novas portas para o investimento e desenvolvimento industrial.


Em época de vacas magras, recessão, desemprego e sobretudo numa conjuntura europeia fortemente dominada por Políticas de Direita que em nada dignificam o significado da palavra união, surge na população portuguesa o sentimento que é tempo de cortar em despesas e em cargos na função pública, mas quando se trata do corte de Municípios e Freguesias, é bom que se tenha consciência da qualidade do serviço que é prestado com menos gente e olhar para o caso lisboeta que em nada dignifica a sensibilidade social.


O que é certo neste momento é que o memorando da Troika exige o corte de municípios e freguesias, mas como nem só da Troika vive a política, deve-se ter em atenção a forma como os cortes são feitos de maneira a não servirem meramente para inglês ver. Mais do que cortar, há que uniformizar e reestruturar, pois a crise tem que tocar a todos tal como tocou a Portugal que não teve a culpa de ser afectado pelos erros das agências americanas que hoje nos chamam “lixo” e simultaneamente querem enriquecer com os seus próprios erros, afectando o Euro e alavancando a subida dos juros.


No fim de tudo, quem perde somos nós, com serviços de menor qualidade, mais impostos e com o dinheiro proveniente de toda a penalização social, dispensado em função do pagamento de dívidas externas.


André Lopes

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